Não vamos nos classificar, diz dirigente do Cobresal

Gerente do rival do Corinthians admitiu que objetivo do clube é atuar bem em casa e falou sobre como é trabalhar com o futebol no meio do deserto, em uma cidade que corre o risco de desaparecer

A caminhada do Corinthians rumo ao bicampeonato da Libertadores começa nesta quarta-feira, às 21h45. Na estreia, o Timão enfrentará o único invicto da história da competição. No entanto, não se trata de uma potência sul-americana. Muito pelo contrário. O Alvinegro terá pela frente o Cobresal, equipe da remota El Salvador, cidade de 10 mil habitantes encrustada no meio do deserto do Atacama, no Chile.

Esta é a segunda participação do Cobresal na competição. Na primeira, em 1986, o time chileno não perdeu nenhum jogo, mas os cinco empates em seis jogos não foram suficientes para levá-lo ao mata-mata.

Neste ano, as pretensões são ainda mais modestas. De acordo com o gerente de futebol Juan Silva, o Cobresal “não vai se iludir e achar que vai às oitavas de final”. Atuar bem em casa já seria um grande feito para o clube cujo orçamento mensal é insuficiente para arcar com o salário de duas estrelas corintianas.

FOTOS - Veja um cemitério fantasma no deserto do Atacama

Em entrevista ao Portal da Band, Silva falou sobre as expectativas do duelo contra o Timão, elogiou Tite, contou sobre como é a vida em um local onde só se vê verde no gramado do estádio e admitiu que existe a possibilidade de a cidade situada às margens de uma mina de cobre desaparecer no futuro.

Portal da Band: Qual é o objetivo do Cobresal na Libertadores?
Juan Silva:
 Temos que ver a realidade. Nosso objetivo é prevalecer nosso mando de campo. Sabemos a qualidade dos rivais, não vai ser fácil. Somos a equipe mais modesta do grupo. Mas no futebol não tem nada decidido. Temos muita vontade, e, junto com o corpo técnico, confiamos em fazer uma boa apresentação. Mas não vamos nos iludir e achar que vamos nos classificar às oitavas de final.

O que você espera do jogo contra o Corinthians?
É um time que joga muito bem, que está se preparando para ganhar esta Copa. É um time ofensivo, que ataca muito pelas laterais. Vai ser um jogo difícil pela maneira como o Corinthians joga e pelo técnico que tem, que é muito prestigiado tanto a nível sul-americano quanto internacional. Sabemos que é uma potência sul-americana.

É verdade que o estádio El Cobre tem uma capacidade maior que o número de habitantes de El Salvador?
Sim, é verdade. A princípio era um estádio para 20 mil pessoas. Hoje em dia a capacidade diminuiu para 13 mil pelas reformas que foram feitas e pelas normas de seguranças aqui do Chile. Mas é uma população de 10 mil pessoas, onde pelo menos 3 mil são flutuantes. O que significa isso? Que eles entram nas minas e trabalham por turnos de sete por sete. Sete dias eles ficam dentro da mina e sete dias eles ficam em suas cidades-base.

Imagem aérea da cidade de El Salvador, no ChileImagem aérea de El Salvador/Google Earth

E como o Cobresal faz para encher o estádio?

Em alguns jogos o estádio aparece um pouco vazio porque a maioria dos nossos sócios – que hoje são 1,5 mil, a maioria trabalhadores da mineração – ficam sentados na tribuna, e as câmeras focalizam o outro lado da arquibancada, onde costume ter pouca gente.

Qual a expectativa de público para o jogo contra o Corinthians?
Nós colocamos 4 mil ingressos à venda, mas como é dia de trabalho complica bastante. Muita gente estará trabalhando na hora do jogo. No entanto, como esperamos gente da região, a expectativa é de 3 mil, 3,5 mil pessoas para o jogo.

CURIOSIDADES - Saiba mais sobre o Cobresal, rival do Timão

Com um público tão pequeno, como a equipe faz para se manter financeiramente?
Embora nós tenhamos pouca média de público, nós temos 1,5 mil sócios, que pagam uma cota mensal de aproximadamente US$ 20 (cerca de R$ 80). Também há os patrocinadores, o dinheiro que ingressa do pay per view. Em sua história de 36 anos, o Cobresal sempre tem sido um clube muito organizado. Sempre mantemos os gastos fixos porque não temos a entrada de dinheiro durante a temporada. Hoje em dia, com o dinheiro que vem da Conmebol, temos um pouquinho mais de ar para fazer outras coisas, principalmente planejar bem as viagens. Nós vamos com voo fretado a Assunção, possivelmente a São Paulo também. Mas nós não saímos do nosso orçamento.

Qual o orçamento mensal do clube?
Para toda a manutenção do clube nós gastamos cerca de US$ 170 mil (R$ 600 mil). É o gasto com plantel, corpo técnico, administração, viagens, hotelaria e nossas divisões inferiores, porque, como há poucos habitantes aqui, nosso futebol de base está em Santiago.

Para comparar, esse é o valor que o Corinthians gasta com o salário de dois jogadores...
Isso acontece aqui com os times grandes, com três jogadores de Colo Colo, Universidad de Chile. É o que digo, somos um time modesto, mas organizado, que tem muita vontade de escrever seu nome. Foi um pouco épico ser campeão, porque nós estamos na Libertadores por termos vencido o torneio Clausura da temporada 2014/15. Fomos muito reconhecidos pelo ambiente futebolístico, não só nacional. É uma luta de Davi contra Golias, mas no campo entram 11 contra 11, obviamente respeitando a história e os jogadores do rival.

Como é a cidade de El Salvador?
É um acampamento mineiro, 90% gira em torno da mineração e os outros 10% são comércio, futebol... Esse clube foi fundado para dar uma distração aos trabalhadores da empresa Codelco, que é a mais importante do nosso país. O cobre é o elemento mais importante, que move o país. É uma cidade muito segura, porque nossos torcedores e sócios são todos trabalhadores. É um povo muito educado, que pode sentar ao lado de um torcedor rival e conversar. É um dos poucos estádios em que as pessoas vêm em família. Se vê bebês recém-nascidos, crianças de sete anos chutando bola nas arquibancadas. É um estádio também aberto à comunidade, que cria um sentimento de pertencimento à gente.

E o clima?
Aqui é atípico em relação ao resto do país porque, com todo o inóspito do clima e da paisagem, estamos rodeados de puro deserto. Aqui se você vê o contraste de um estádio com grama, que não é fácil de mantê-lo. O único verde que você vai encontrar em El Salvador é o campo do estádio. Manter esse campo é um grande esforço da nossa gente.

Conversando com o jornalista Sebastián Espinoza, do Diario Atacama, ele me disse que há anos existem rumores de que a mina seria fechada. Isso é verdade? Caso isso acorra, o clube fecharia?
Posso falar por experiência própria. Eu cheguei como jogador ao clube em 2001 e sempre escutei o rumor de que isso fecharia. Mas há uma característica do mineiro, que de alguma maneira sempre se reinventou para se manter vivo neste acampamento. No Chile há dois tipos de minas: as abertas e as de túneis, como a de El Salvador. E fazer um túnel não é fácil. Por mais que existam mecanismos de segurança, a vida do mineiro está sempre em risco de acidente. O esforço dessa gente vai reinventando e mantendo a vida deste acampamento. Se chegar o momento de uma decisão, seja de sair daqui ou fechar o clube, será de nossos sócios.

Os adversários reclamam das condições para atuar aí?
Principalmente da altitude, mas hoje em dia os times estão bem preparados fisicamente. Há uma vantagem, mas é cada vez menor. Creio que aqui se ganha jogando futebol. Temos um bom campo. As duas equipes têm condições de fazer um lindo espetáculo. Levo anos jogando em Calama, em El Salvador, e estou convencido que, obviamente, é um benefício, mas se não tem um bom time, isso fica em segundo plano.

FOTOS
Você conhece o clube do coração das estrelas do pornô?

CLIQUE NA IMAGEM ABAIXO
Linha do Tempo! Conheça a história das medalhas olímpicas

GALERIA
Você conhece o Playboy do Pôquer? Veja como ele ostenta

Compartilhar

Ler a notÍcia completa

Deixe seu comentário