Poker é esporte? Especialistas opinam
Portal da Band aproveitou a abertura da temporada 2017 do BSOP para ouvir a opinião de jogadores de poker e atletas de outras modalidades
Gustavo Mesa - 7/02/2017 - 15:08 | Atualizado em 7/02/2017 - 15:11

Campeonato Brasileiro de Poker começou a temporada 2017 em Punta del Este, no Uruguai (Foto: André Rigue/Portal da Band)
“Atividade física regular e metódica, como recreação, competitiva ou como forma de manter o condicionamento físico, que envolve exercícios de vários tipos, praticados individualmente ou em equipes”. Assim o dicionário Aulete define a palavra “esporte”. Futebol, vôlei e basquete são exemplos óbvios de modalidades que ilustram o termo. Mas e o poker? Se encaixaria nesta definição?
O Portal da Band aproveitou a disputa da primeira etapa da temporada 2017 do Campeonato Brasileiro de Poker (BSOP) para consultar jogadores da modalidade e atletas de outros esportes para saber as respectivas opiniões, que estão abaixo:
André Akkari, jogador profissional de poker, vencedor do BSOP 2011: “Sim. Primeiro, porque tem um órgão mundial que decide o que é esporte ou não, e esse órgão decidiu que poker é um esporte mental. Há um órgão para os esportes mentais, que é a IMSA (International Mind Sports Association). Foi feito um pedido da Federação Mundial de Poker e eles aceitaram o poker como esporte. Mas, mais do que a burocracia, poker é esporte porque tem estratégia, tática, adrenalina, é social, gera entretenimento como o esporte. Em todos os aspectos de competição, de premiação, o poker está envolvido. Por ser característica de um esporte mental, eu acho que o que mais exige o jogador é o trabalho estratégico, o raciocínio lógico. Tudo que envolve concentração e foco. A parte técnica do poker é muito pesada. Ele tem características completamente diferentes de um esporte tradicional como o futebol, o vôlei, que exigem mais o físico. Também têm o conceito tático, estratégico, mas são diferentes. O poker vai muito mais para o lado da mente do que para o aeróbico”.
Sérgio Prado, comentarista, blogueiro do site PokerStars: “Poker é esporte, sim. A gente tem uma cabeça muito condicionada a achar que tudo que é esporte precisa ter um esforço físico visível. Mas o esforço que um jogador precisa fazer um esforço mental e até físico que as pessoas que não jogam não percebem. Poker é um esporte da mente, um esporte que puxa muito e que desgasta demais. Você passa 12 horas diárias concentrado e, se você errar um pouco, se você sair do foco, você perde o seu torneio e vai embora. Isso mostra que você tem que ter um preparo mental e físico muito grande. Eu considero um esporte dos mais legais que tem”.

Maurren Maggi, campeã do salto em distância em Pequim 2008, campeã do Desafio das Estrelas da etapa de São Paulo do BSOP em 2016: “Não considero um esporte. Mas, ao mesmo tempo, ele me trouxe sensações que só o esporte me dá”.

Bruno Soares, tenista campeão do Australian Open e do US Open nas duplas em 2016, vencedor do Desafio das Estrelas da etapa de Punta del Este do BSOP em 2017: “No geral, a maioria das pessoas associa esporte à atividade física, o que de certa forma faz sentido. Mas independentemente de chamar o poker de esporte da mente ou de jogo, eu acho que o mais importante já está sendo feito, que é declarar que o poker não é um jogo de azar. Então seria como os jogos de tabuleiro, ou os egames, que estão ficando populares. É outra linha de esportes, que envolvem outras habilidades, não só a parte física. Todo esporte, todo jogo, requer certos tipos de habilidade. Eu acho que o esporte é qualquer coisa que a gente faz de forma competitiva. Você vai na Europa e campeonato de dardo é supervisto. Eu acho que o esporte está muito mais na essência da competição, da rivalidade, do confronto, do que em algo puramente físico”.

Igor “Federal” Trafane, presidente do BSOP: “Sim. Existem órgãos no mundo que definem os padrões de qualquer coisa na vida. Esse órgão é chancelado para ter o direito de falar isso. Existem órgãos como a WADA, que dize se o cara está ou não dopado, por exemplo. No Brasil, vou pegar um exemplo totalemnte diferente. O cara é culpado ou inocente? Existe um órgão, que é a Justiça brasileira, que vai dizer isso. O mundo muitas vezes precisa de órgãos que digam o que são as coisas, para não cair no achismo. No mundo, dois órgãos dividem essa primazia: o COI, Comitê Olímpico Internacional, e o SportAccord, ambos trabalham em fina sintonia com a ONU. Por que isso? Porque estava tendo muita interferência política no esporte. Em 1980, os EUA boicotam a Olimpíada de Moscou. Em 1984, a União Soviética boicota a Olimpíada de Los Angeles... Nessa época teve uma reunião no Conselho Mundial do Desporto, que criou a Carta Mundial do Desporto, dizendo que nações e corpos políticos dessas nações não podem interferir no esporte. Quem define o que é esporte ou não são esses órgãos mundiais. Portanto, não sou eu, não é você, não é a velhinha na janela em Pindamonhangaba ou o tiozinho na praça de Carapicuíba que vai dizer se é ou não é. Existe um órgão para fazer isso. Dentro desse órgão, existe um sub-órgão para esportes aquáticos, outro para esporte de luta, outro para esportes a motor e tem um para os esportes da mente, que se chama IMSA, Internacional Mind Sports Association. Portanto, o órgão mundial que vai dizer se é esporte ou não, chancelado pela ONU e chancelado pelo Brasil, que é signatário da Carta Mundial do esporte, é a IMSA. E hoje nós somos filiados à IMSA. Agora, eu entendo que a tiazinha de Carapicuíba não ache, tranquilo. Assim como até hoje tem gente que acha que a mulher não deve ter o mesmo direito do homem. Eu não respeito, mas entendo. Só que não interessa o que elas acham, a mulher tem o mesmo direito do homem. E o poker é esporte, já que o órgão que tem que dizer se é diz que é”.
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